Há dois anos e meio, banqueiros e investidores participaram da cúpula climática das Nações Unidas em Glasgow, Escócia, um evento anual normalmente dominado por ativistas e especialistas em clima.
A cúpula foi considerada um marco, já que o setor financeiro concordou em empregar sua força para enfrentar as mudanças climáticas.
Centenas de bancos, seguradoras e gestores de ativos prometeram investir US$ 130 trilhões na redução das emissões de carbono e no financiamento da transição energética ao criarem a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (Aliança Financeira de Glasgow para a neutralidade de carbono, em tradução livre). Mas um estudo recente, publicado pelo Banco Central Europeu, questionou a eficácia dessas promessas.
“Nossos resultados lançam dúvidas sobre a eficácia dos compromissos feitos de forma voluntária para reduzir o financiamento a projetos com altas emissões, seja por meio de desinvestimento ou engajamento”, escreveram economistas do banco central, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e da Escola de Negócios de Columbia que analisaram os financiamentos de bancos europeus que aderiram à aliança.
Os pesquisadores descobriram que desde 2018 os bancos reduziram em 20% os empréstimos para setores considerados mais poluentes, como petróleo e gás e transporte.
Isso parece ser um progresso, mas os pesquisadores argumentaram que não é suficiente, pois a queda foi a mesma nos bancos que não haviam assinado o compromisso.
“Não é positivo que um banco focado na neutralidade aja exatamente como um banco sem esse foco porque precisamos que o financiamento seja ampliado”, disse Parinitha Sastry, professora de finanças na Escola de Negócios de Columbia e uma das autoras do artigo. “Queremos que haja uma mudança de comportamento.”
As expectativas para o setor financeiro por parte das autoridades e ativistas climáticos são altas. Todos os anos, trilhões de dólares precisam ser investidos em energia limpa para que o mundo atinja a neutralidade até 2050, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
A maior parte desse custo precisará ser financiada pelo setor privado, e os bancos são os principais facilitadores desses acordos.
Muitos bancos se apressaram em fazer promessas de carbono zero próximo da cúpula em Glasgow, a COP26. Mas à medida que a pressão aumenta para reduzir as emissões, os ativistas climáticos estão preocupados com o enfraquecimento dos compromissos devido à crescente pressão política, demanda por energia barata e mudanças nas alianças geopolíticas.
Os pesquisadores usaram dados do Banco Central Europeu de mais de 300 bancos europeus. Desses, cerca de 10% haviam aderido ao compromisso ambiental. Eles tendiam a ser maiores e emprestar mais para setores de alto carbono, como mineração, especialmente fora da zona do euro.