Tudo indica que Lula pretende levar sua campanha tão longe quanto possível, sem se comprometer com um delineamento mais nítido do que seria a política econômica do seu governo. Se lhe for possível, irá até o final do segundo turno, sem se definir quanto a isso.
Lula sabe perfeitamente que, caso sua candidatura se realinhe mais ao centro do espectro político, sua vitória se tornará mais provável. E é bem possível que, há alguns meses, se tenha convencido de que um movimento inequívoco para o centro seria essencial para assegurar sua eleição. Mas já não parece tão certo disso.
Seu desempenho nas pesquisas de intenção de votos lhe tem sido tão favorável, que o ex-presidente pode estar inclinado a, desta vez, tentar a vitória, sem se mover tão explicitamente para o centro. Pelo menos no que diz respeito ao delineamento da política econômica que seria adotada, caso viesse a ser eleito.
Lula parece ter clara preferência por demonstrações mais vagas e menos comprometedoras de sua suposta disposição de se mover para o centro. O melhor exemplo é o interminável minueto que vem insistindo em dançar com Geraldo Alckmin, para atraí-lo para a chapa presidencial petista.
É bem possível que esse minueto ainda perdure por meses, sem que haja um desfecho. E nem mesmo se sabe se a proposta é, de fato, para valer. Mas Lula não tem pressa. O tempo trabalha a seu favor. O minueto com Alckmin é o que lhe basta, por enquanto, como evidência de que, ao contrário do que poderia parecer, o candidato petista continua disposto a se mover para o centro.
Que implicações a escolha de Alckmin terá para a condução da política econômica, caso Lula seja eleito? Ninguém sabe. Ter tido Temer como vice, em 2010 e 2014, não impediu que Dilma Rousseff fizesse o que fez.
Há poucos dias ninguém menos do que o ex-ministro Guido Mantega saiu do seu caminho para esclarecer que “Lula terá muitas alianças políticas, você não pode governar sozinho”. E que “depois que o grupo de partidos estiver confirmado, você vai começar a discutir um programa que tem que ser aceito por todos, não pode ser um programa imposto pelo PT”. (Bloomberg, 1.º/2)
De novo, não custa lembrar que a coligação de dez partidos que elegeu Dilma, em 2010, e a de nove agremiações que a reelegeu, em 2014, não impediram o desatino que depois se viu.
Para que a suposta disposição de Lula de se mover para o centro seja levada a sério, o candidato terá de delinear com clareza a política econômica que adotaria, caso fosse, afinal, eleito.
Economista, doutor pela Universidade de Harvad, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio.
Fonte: O Estado de São Paulo
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