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Cérebro de centenários pode apontar caminho para evitar doenças do envelhecimento

Um dos meus maiores prazeres durante as restrições contra a Covid-19 foi ter tempo para conversas telefônicas com amigos e familiares que eu não podia ver pessoalmente. Especialmente animadoras foram minhas conversas quinzenais com Margaret Shryer, uma viúva de 94 anos.

Jane E. Brody, do New York Times

Conheci Margaret em Minneapolis, em 1963, e continuamos amigas há 58 anos. Minhas conversas com ela são significativas, cobrindo tópicos que incluem política, poesia, peças de teatro e filosofia, bem como prazeres e problemas familiares. Aprecio sua sensatez e seus sábios conselhos. E ela parece não ter perdido um pingo de seu poder cerebral juvenil. Ela continua com a mente afiada como quando nos conhecemos décadas atrás.

Descobertas recentes sobre as trajetórias da cognição humana sugerem que, se nenhum problema físico, como um derrame, ocorrer nos próximos seis anos, Margaret está destinada a tornar-se uma centenária cognitivamente afiada.

Menos de 1% dos americanos atinge a idade de 100 anos, e novos dados da Holanda indicam que aqueles que atingem esse marco com suas faculdades mentais ainda intactas, provavelmente permanecerão assim pelos anos restantes, mesmo que seus cérebros estejam cheios de placas e emaranhados, que são as características da doença de Alzheimer.

As descobertas do estudo holandês podem, eventualmente, abrir caminho para que muitos mais de nós atinjam a “superioridade cognitiva”, como os pesquisadores chamam as pessoas que se aproximam do fim da vida humana com cérebros que funcionam como se fossem 30 anos mais jovens. Um dia, todos que forem fisicamente capazes de atingir 100 anos, também poderão permanecer mentalmente saudáveis. Ao estudar centenários, os pesquisadores esperam identificar características confiáveis e desenvolver tratamentos para um envelhecimento cognitivo saudável. Enquanto isso, há muito que podemos fazer agora para manter nossos cérebros em ótimas condições.

Essas perspectivas esperançosas derivam do estudo com 340 centenários holandeses cognitivamente saudáveis. Os 79 participantes que não morreram nem desistiram do estudo, retornaram para testes cognitivos repetidos, em um acompanhamento médio de 19 meses. Os voluntários não experimentaram declínio nas principais medidas cognitivas, exceto por uma ligeira perda na função da memória. Basicamente, se comportaram como se fossem 30 anos mais jovens na cognição geral; capacidade de tomar decisões, fazer planos e executá-los; recriar desenhando uma figura que eles olharam; listar animais ou objetos que começam com uma determinada letra; e não se distrair facilmente ao realizar uma tarefa ou se perder ao sair de casa.

Autópsias cerebrais de 44 dos centenários originais revelaram que muitos tinham neuropatologia substancial, comum em pessoas com doença de Alzheimer, embora tivessem permanecido cognitivamente saudáveis por até quatro anos após os 100.

Thomas Perls, geriatra da Universidade de Boston disse que os participantes holandeses representavam “o crème de la crème” dos centenários que evitaram o aparecimento da doença de Alzheimer por pelo menos 20 a 30 anos. Eles pareciam ser resistentes à doença ou cognitivamente resilientes, de alguma forma capazes de evitar manifestações de seus efeitos prejudiciais ao cérebro. Talvez ambos.

— A resistência pode refletir uma relativa ausência de danos cerebrais conferidos pelos genes ou estilo de vida de uma pessoa. Outra possibilidade é que eles podem ter mecanismos biológicos protetores que retardam o envelhecimento cerebral e previnem doenças clínicas —explica Perls.

A equipe holandesa afirmou que pessoas com resiliência cognitiva são capazes de acumular níveis mais altos de danos cerebrais antes que os sintomas clínicos apareçam.

Melhora no cérebro

Segundo, Yaakov Stern, neuropsicólogo e diretor de neurociência cognitiva da Universidade de Columbia, muitos estudos revelaram que uma variedade de fatores de estilo de vida pode contribuir para a resiliência. Entre eles estão a obtenção de uma educação de nível superior e de melhor qualidade; escolher ocupações que lidam com fatos e dados complexos; consumir uma dieta de estilo mediterrâneo; envolvimento em atividades de lazer; socializar com outras pessoas; e se exercitar regularmente.

— A doença de Alzheimer não é um resultado inevitável do envelhecimento. Aqueles geneticamente predispostos podem atrasá-la acentuadamente ou não mostrarem evidências antes de morrer, fazendo coisas que sabemos serem saudáveis: exercitar-se regularmente, manter um peso saudável, não fumar, minimizar a carne vermelha na dieta e fazer coisas cognitivamente novas e desafiadoras para o cérebro, como aprender uma nova língua ou um instrumento musical — conta Perls

O geriatra ressalta que também é importante manter uma boa audição. O geriatra tem 60 anos e usa aparelho auditivo.

— Não consigo enfatizar o suficiente como é importante que as pessoas otimizem sua capacidade de ouvir. Existe uma conexão direta entre a audição e a preservação da função cognitiva. Ser teimoso sobre o uso de aparelhos auditivos é simplesmente bobo. A perda auditiva resulta em perda cognitiva porque você perde muito. Você perde o contato com o seu ambiente — defende o médico.

A visão também é importante nesse processo:

— A visão deficiente piora o comprometimento cognitivo – afirma.

Fonte: O Globo

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