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Atritos entre Petrobras e governo devem continuar, dizem aliados

Executivos do mercado de combustíveis e pessoas próximas ao economista Adriano Pires, indicado pelo governo para ser presidente da Petrobras, afirmam que ele deverá seguir com a política de preços da empresa, defendendo, inclusive, reajustes periódicos e com intervalos pequenos.

Os repasses da escalada de petróleo para o consumidor foram justamente a causa de atrito entre o presidente demitido da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, com o Palácio do Planalto.

Por isso, investidores institucionais e grandes fundos ouvidos pela Folha avaliam que os atritos com o governo tendem a se repetir com Pires no comando.

No entanto, acreditam que a proximidade de Pires com o Congresso abrirá caminho para um plano B –a criação de algum mecanismo de compensação sempre que o petróleo estiver muito alto.

Isso faria os repasses serem mantidos sem uma intervenção mais contundente na petroleira. Cálculos feitos pela Folha com base em dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e da própria Petrobras indicam que a companhia deixou de ganhar ao menos R$ 17 bilhões com essa política no acumulado do ano até fevereiro.

Segundo interlocutores de Pires, para fazer os repasses, o novo presidente da Petrobras vai trabalhar pela aprovação de um fundo privado que, provavelmente, será abastecido com recursos de dividendos e royalties da Petrobras.

A outra fonte possível para abastecer esse fundo seria mais renúncia tributária –algo que compromete o Orçamento da União– ou a criação de um novo imposto.

Com ampla experiência no mercado de óleo, gás e energia, Pires teria condições políticas e técnicas de conseguir articular uma saída que não signifique usar o caixa da Petrobras para fazer populismo com o preço dos combustíveis.

Pires sempre manteve interlocução com parlamentares como diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) na discussão e, em alguns casos, até na estruturação de projetos de lei, como consultor.

Os possíveis movimentos do novo executivo têm sido acompanhados pelo mercado desde sua indicação, que não foi feita por Guedes nem pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Foi chancelado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), caciques do Progressistas, uma das bases de sustentação do governo.

Todas essas medidas geram desconforto na equipe do ministro Paulo Guedes (Economia), que já se manifestou em diferentes ocasiões contra a criação de um fundo ou uso de subsídios para conter os preços.

O aumento dos combustíveis é uma das maiores preocupações do governo, pois os reajustes, cada vez mais altos, são interpretados como um risco à reeleição do presidente, e tem gerado pressão dentro do próprio governo por uma solução para amenizar o preço para o consumidor final.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta semana mostra que, para a maioria dos brasileiros (68%), o governo de Bolsonaro tem responsabilidade pela alta no preço dos combustíveis.

Fonte: Folha de São Paulo

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