O senhor apoia a candidatura de Simone Tebet, mas ela e outros pré-candidatos adversários de Lula e Bolsonaro apresentam desempenhos ruins nas pesquisas. Onde está o erro da terceira via?
Esse nome já é um erro. A terceira via tornou-se uma peça de ficção mal colocada em que todos se prendem equivocadamente a esse discurso de “nem Lula nem Bolsonaro”. Há uma dificuldade de entendimento de como deveria ser construída uma alternativa. As pesquisas mostram que é quase impossível tirar o Lula do segundo turno e que a vaga a ser conquistada é a que está com Bolsonaro. Ao mesmo tempo, e por mais que pareça contraditório, o campo a se crescer e conseguir votos é o do Lula.
Pode explicar melhor?
Dos mais de 45% das intenções de voto do Lula, ele tem 30% que não deixarão de votar nele. De resto, há um eleitor histórico do PSDB que está com o PT agora apenas como antítese ao Bolsonaro. Quais são os motivos? Como se converte este voto? Certamente não é ofendendo o Lula, como o Ciro Gomes tem feito. Ele escolheu esse caminho, e isso não vai levar a lugar nenhum. Outro erro do nosso campo foi o de não entender ainda como atrair o eleitor que votou em Bolsonaro em 2018, se arrependeu e quer outra opção nessa eleição. Fazendo esses dois movimentos isolaríamos o Bolsonaro na extrema-direita e constituiríamos uma candidatura de centro-direita.
Faltam pouco mais de dois meses para o primeiro turno. Não é uma disputa perdida agora?
Não vou dizer que está perdida, mas é difícil. Temos um ex-presidente e um presidente nesta corrida e não conseguimos responder até agora para a população a seguinte pergunta: “Quem somos?”. Simone está bem amparada com quadros de muita qualidade, mas como uma candidatura lastreada numa agenda de responsabilidade fiscal vai concorrer com o governo de Bolsonaro, que é populista, e o Lula indo no mesmo caminho? É improvável ver esse crescimento, mas acho que ela não pode perder oportunidades, como no caso da PEC Emergencial, em que ela votou favorável. Ali, Simone abriu mão de se posicionar para um segmento da sociedade. (O projeto citado permitiu ao governo furar o teto de gastos e driblar leis para aumentar o Auxílio Brasil e criar novos benefícios).
João Doria agiu corretamente ao desistir da corrida ao Planalto?
Acho que sim. Ele não teria o apoio de outros partidos e ficaria com apenas dois comerciais por dia de espaço para crescer. Além disso, a alta rejeição é explicada por alguns fatores: fez uma quarentena necessária que teve um impacto forte na renda, maior do que em outros estados, já que São Paulo é um dos poucos lugares do país em que há mais brasileiros vivendo de renda do que da atividade econômica. Ele também se expôs demais, houve excesso de enfrentamento com o governo federal, e a promoção da vacina pareceu oportunismo. É uma pena. Não fosse por ele, teríamos um número de mortes muito maior pelo coronavírus.
O novo auxílio de R$ 600 dado pelo governo federal vai fazer diferença para Bolsonaro nas pesquisas?
Há uma diferença entre as duas últimas candidaturas à reeleição no Brasil. A inflação do governo Dilma afetou o setor de serviços e impactou mais a classe média. A inflação do Bolsonaro atinge os mais pobres. É o supermercado. Bolsonaro se orgulha da redução do preço da gasolina, mas o leite está mais caro. Não acho a redução do combustível será determinante na votação, já que não tira os mais pobres dessa condição. Esse eleitor mais pobre segue com dificuldades, mesmo com o novo auxílio.
Acha que Bolsonaro pode se recusar a aceitar uma derrota nas urnas?
Não me parece que a coragem de Bolsonaro seja tão grande. Embora os discursos dele na convenção do PL e na reunião com embaixadores mostrem que o 7 de setembro pode ser um risco, não acredito que haverá espaço para esticar a corda com falas que indicam desrespeito às urnas.
O presidente consolidou seu apoio no Congresso Nacional após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), conquistar o comando da Casa derrotando o seu candidato, Baleia Rossi (MDB-SP). O senhor errou na escolha do seu sucessor?
Talvez fosse melhor trazer o Marcos Pereira (Republicanos-SP)? Se eu tivesse clareza que ia perder apoio do meu próprio partido, talvez. Nossa problema naquela ocasião foi a atuação do PSDB e do DEM. O ACM Neto defendeu a candidatura do Baleia, mas no final ele e Ronaldo Caiado (governador de Goiás) ficaram com a candidatura do Arthur Lira. Depois daquela derrota, nossos partidos ficaram sem identidade no Congresso e perdeu-se o enfrentamento da centro-direita. A vitória de Arthur Lira consolidou o Bolsonaro na eleição de 2022.
Deixar o orçamento secreto ser criado durante o seu período na presidência não foi outro erro que abriu caminho para Lira?
O instrumento foi criado pelo Congresso em 2020, mas não funcionava no patamar atual. O próximo governo tem que exigir ao Supremo Tribunal Federal o julgamento do mérito do processo sobre as emendas de relator. As emendas aprovadas pelo Parlamento têm que ser impessoais.
Seu partido, o PSDB, aposta em Rodrigo Garcia para o governo de São Paulo. Como Haddad parece estar no segundo, o que fazer para ele não ser engolido por Tarcísio de Freitas?
Rodrigo será reeleito. Haddad vai perder votos e o Tarcísio está num gueto, sem saber se vai se posicionar como bolsonarista ou não. A classe média que apostaria no Tarcísio migrará para o Rodrigo. Desde Mário Covas, ele é o primeiro quadro com articulação política e capacidade administrativa.
No Rio, a sua família está seguindo caminho diferente do grupo político do prefeito Eduardo Paes, e seu pai, o vereador Cesar Maia, será vice de Marcelo Freixo. Qual o motivo desse movimento?
Queríamos caminhar juntos, mas o Eduardo não conseguiu ser ele próprio o candidato. Então, lançou o Felipe Santa Cruz, mas os comerciais não vingaram. A partir daí, abri diálogo com o Freixo, a quem vejo como o mais preparado para esta eleição. Ele vem estudando e organizando uma base de apoio há mais tempo. Além de ter um ativo único para derrotar Cláudio Castro: a aliança com o Lula. Pesquisas mostram que o eleitor do meu pai tem nele o principal nome. Acreditamos que o Cesar vai agregar oito ou nove pontos ao Freixo.
E por que Paes não enxergou o cenário da mesma forma e anunciou apoio ao ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves?
Ele tem disputas históricas contra o PSOL no Rio e acredita que há uma rejeição grande ao Freixo. É direito dele. Há quem diga que ele quer que o Castro ganhe. Já achei isso, mas hoje discordo. Ele está se expondo pelo Rodrigo Neves, comprando a briga. No segundo turno, Paes estará com Freixo, por se opor ao bolsonarismo.
Em 2024, Paes sendo candidato à reeleição para <QL>a Prefeitura, o senhor estará ao lado dele?
Não tem chance de eu não estar com ele na próxima eleição que disputar. E tenho certeza de que o Freixo também apoiará.
Na próxima eleição, quem o senhor quer que seja o vice de Paes, possível futuro prefeito em 2026 caso o prefeito venha a governador?
Quero ver o Carlo Caiado (presidente da Câmara dos Vereadores) como vice. É uma figura fundamental na política fluminense atual.
Mas Paes vai querer colocar o deputado federal Pedro Paulo Carvalho na posição, não?
São irmãos siameses, né? Está na hora de dar espaço para outros irmãos.
O senhor não é candidato nesse ano, depois de ter sido presidente da Câmara dos Deputados. Foi medo de não ser eleito?
Não tenho votos para um cargo maior. Os danos que as redes bolsonaristas causaram na minha imagem trazem impactos para tentar o Executivo. Não tenho vontade de ser senador, acho uma Casa chata. Teria votos para deputado, mas me sinto um piano de cauda no caminhão de mudança. Caso eleito, ninguém saberia qual é o meu espaço, não quero ficar como um zumbi naquele ambiente onde fui presidente. Me daria alegria participar de uma campanha presidencial e ocupar um cargo no Executivo, mas não consegui estruturar. Sigo em São Paulo como secretário.
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