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Brasil lidera investimentos chineses no mundo: US$ 5,9 bi no ano passado, o maior desde 2017

O investimento chinês no Brasil chegou a US$ 5,9 bilhões ano passado, maior valor desde 2017, segundo dados divulgados pelo Centro Empresarial Brasil-China (CEBC). O número representa recuperação após a queda na pandemia: na comparação com 2020, a alta foi de 208%. O relatório indica ampla diversificação de investimentos, chegando a setores como tecnologia da informação, petróleo, energia e finanças.

Os dados foram divulgados dias após o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar que não quer ver “a chinesada quebrar nossas fábricas”, durante um almoço com empresários do agronegócio, o que gerou, segundo especialistas, novo mal-estar com o maior parceiro comercial do país e que, de acordo com os dados da CEBC, se fortalece como grande investidor no Brasil.

O Brasil foi o país que mais recebeu investimentos da China no mundo em 2021, com participação de 13,6% do total, seguido por Países Baixos e Colômbia. Em termos de valores dos projetos, a área de petróleo absorveu 85% do total aportado no Brasil em 2021, quebrando momentaneamente o domínio do setor elétrico em termos de fluxo.

Esse cenário é reflexo de dois investimentos particularmente volumosos das estatais China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e China National Oil and Gas Exploration and Development Company (CNODC) no pré-sal.

O levantamento também mostra que 51% dos investimentos chineses entraram no Brasil via greenfield — focados em novos projetos.

Segundo o autor do estudo, Tulio Cariello, declarações negativas de integrantes do governo sobre a China poderiam ser evitadas:

— Os investimentos chineses têm uma maturação de longo prazo, e o Brasil é uma economia relevante em âmbito regional, com mercado consumidor considerável, mão de obra qualificada em áreas técnicas e relativa estabilidade econômica — disse Cariello.

Ele ressaltou que, de acordo com o estoque de investimentos chineses entre 2007 e 2021, as empresas daquele país anunciaram 270 projetos no Brasil, com potencial de US$ 116,5 bilhões. Desse total, 202 projetos foram efetivados com US$ 70,3 bilhões.

Pedro Brites, professor da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que repetidas declarações nos últimos anos de membros do governo Jair Bolsonaro trazem “instabilidade e desconfiança” na visão chinesa do Brasil como um parceiro estratégico.

Para este ano, ele vê grande potencial para a continuidade de investimentos em energia e tecnologia da informação, além de uma importante sinergia nos setores de infraestrutura e construção civil.

Alexei Vivan, diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE) acredita que os investimentos continuarão crescendo:

— Os chineses aceitam algum risco com uma taxa mais baixa de retorno, porque estão olhando no longo prazo, diferentemente de outros investidores, que já querem um retorno inicial para mostrar ao seu acionista — afirmou.

A China é o maior comprador de produtos do Brasil, somando US$ 87,696 bilhões (31,28%) no ano passado, em especial em produtos do agronegócio e minérios. Somente em 2021, houve um superávit do lado brasileiro de mais de US$ 40 bilhões no comércio com os chineses.

— O Brasil precisa de investimentos privados não só dos chineses, grandes compradores de nossos produtos, mas de qualquer país — disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), José Sismeiro.

Em 2021, a chinesa Yangtze Optical Fibre and Cable (YOFC) adquiriu 100% das ações da Belden Poliron, empresa que atua na fabricação de cabos especiais usados em indústrias petroquímicas, químicas e petróleo, entre outros.

— Menos de seis meses após a aquisição, já foi aprovado o investimento em uma nova unidade industrial em Pouso Alegre (MG) para telecomunicações— disse Reinaldo Jeronymo, CEO da empresa.

Já a Great Wall Motors (GWM) comprou a fábrica de automóveis da Mercedes-Benz em Iracemápolis, interior de São Paulo, para a produção de carros elétricos e híbridos. Pedro Bentancourt, diretor da empresa no Brasil, afirmou que o país atrai chineses pelo mercado local e por contar com mão de obra e fornecedores qualificados.

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