Depois de despertar no PT um período inicial de encantamento, o deputado federal André Janones (Avante-MG) passou a ser visto como uma espécie de “garoto problema” pelo comando da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os bate-bocas protagonizados pelo parlamentar mineiro nos bastidores do debate da Band no último domingo foram o auge de um processo de desgaste que começou com as suas postagens agressivas nas redes socais e sua resistência em seguir a linha política determinada pelos petistas.
No momento em que Lula se esforça para se apresentar ao eleitor como a pessoa capaz de pacificar o país, o tom bélico do novo aliado pode pôr em xeque o discurso de que o “amor vai vencer o ódio”. O plano na coordenação da campanha é deixar claro que Janones tem uma atuação autônoma.
Logo depois de anunciar a desistência de sua candidatura a presidente no dia 4 de agosto para apoiar Lula, Janones passou a ser visto como um trunfo para aumentar a influência do petista nas redes sociais. O parlamentar se aproximou dos integrantes do núcleo de comunicação e os impressionou com seus conhecimentos sobre as formas de lidar com o algorítimo do Facebook. O deputado foi convidado para uma live com Lula para propagar que o Auxílio Brasil com valor de R$ 600 implantado por Jair Bolsonaro vai acabar em dezembro. Empolgado com o protagonismo, o deputado cogitou se mudar para São Paulo.
Lideranças do PT, porém, alertaram que não caberia a ele ter uma função técnica e que a sua atuação deveria ser política. Janones, segundo relatos, também resistiu a seguir qualquer orientação passada pelos aliados do ex-presidente. Descontente, voltou para Minas.
Janones defende a comunicação direta com seus apoiadores e costuma fazer as próprias postagens. Ele tem dito que precisa usar os métodos da direita para enfrentar os bolsonaristas. Há publicações em que já xingou Bolsonaro de “verme” e “vagabundo”.
O maior incômodo provocado por Janones vem de seu comportamento considerado histriônico. No debate do último domingo, por exemplo, a avaliação de petistas é de que o deputado teve a intenção deliberada de provocar os adversários bolsonaristas para ganhar audiência nas redes sociais. Ele foi à Band graças a um convite da campanha de Lula e se sentou na área reservada aos aliados do petista.
— Quem convidou esse cara? — questionou um dirigente partidário.
O parlamentar discutiu asperamente com o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, o ex-BBB Adrilles Jorge e o ex-presidente da Fundação Palmares Sergio Camargo.
Aliados de Janones minimizam as críticas e dizem que lideranças petistas o veem como uma ameaça entre aqueles que disputam a sucessão de Lula no eleitorado popular. De acordo com pessoas próximas, além de querer capitalizar a exposição na campanha presidencial, Janones espera ser recompensado com espaço num eventual governo do petista para se tornar uma liderança nacional.
Embora tenha desistido de sua candidatura ao Planalto para apoiar o ex-presidente, o mineiro não esconde a empolgação com a possibilidade de concorrer à Presidência em 2026. Colado em Lula, ele espera ser um dos mais votados para a Câmara dos Deputados em seu estado este ano. Em 2018, na sua primeira campanha, ele teve 178 mil votos depois de uma campanha, feita quase toda pelas redes socais, em que gastou apenas R$ 60 mil.
Publicamente, o deputado nega que tenha pedido cargos para Lula, mas aliados dizem que Janones gostaria de atuar em algum programa social voltado aos mais pobres; num ministério ou numa secretaria.
A proximidade de Janones com Lula exigiu certo contorcionismo por parte do deputado. Em fevereiro, ele fez críticas a Lula em entrevista ao GLOBO. Na ocasião, afirmou que seria uma opção para que o eleitor não ficasse constrangido a votar em Lula e se referia ao petista e Bolsonaro como “dois extremos”.
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