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Antibolsonarismo supera antilulismo e dificulta crescimento do presidente: veja números inéditos

Na campanha eleitoral de 2022, pesquisas perguntam aos entrevistados se eles acreditam no presidente Jair Bolsonaro (PL), que concorre à reeleição, e também se ele tem capacidade para governar o Brasil. A abordagem investiga efeitos da personalidade, discurso e resultados da gestão do chefe de Estado, que acumula altos índices de rejeição acima de 50%. Pesquisa feita pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), contratada pelo CNPq e Fapemig, revela que o antibolsonarismo é hoje maior do que o antilulismo, tendência que explica, entre outros fatores, a dificuldade do presidente de melhorar seu desempenho e tornar-se mais competitivo eleitoralmente.

Numa escala de zero a dez, sendo 1 “não gosta de jeito nenhum” e 10 “gosta muito”, foram 37% os que responderam 1 para Bolsonaro. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 31%. No “gosto muito”, o ex-presidente tem 27% e Bolsonaro apenas 16%. A pesquisa entrevistou presencialmente 1.535 eleitores em 101 cidades de todas as regiões do país entre os dias 9 e 14 de setembro. A margem de erro total é de 2,5 pontos percentuais para mais ou menos com índice de confiança de 95%.

Se em 2018 muitos eleitores relevaram o discurso de tendência autoritária de Bolsonaro, sua defesa da tortura durante a última ditadura e outros posicionamentos sobre valores, direitos civis e democracia, nesta eleição, explica Daniel de Mendonça, professor de Ciência Política Universidade de Pelotas, “muitos eleitores assumem a relevância dessas posições”.

— Bolsonaro é visto por muitos como um sujeito que tem elementos autoritários enraizados no discurso, faz uma administração entendida como ineficaz e não é confiável — aponta Mendonça, que está atualmente coordenando um estudo sobre os discursos de Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O trabalho ainda não foi concluído, mas o professor antecipa que “o mote do discurso de Lula é a recuperação da soberania do Brasil, num sentindo bem amplo, e o de Bolsonaro é a religião como uso político”.

— Bolsonaro representa quase um Moisés, com a primeira-dama aparecendo com muita força — complementa o professor.

A expectativa do governo de recuperação sólida do presidente na reta final da campanha não aconteceu, segundo todas as pesquisas divulgadas nos últimos dias. A liberação de recursos e contenção da inflação não foram suficientes para reduzir a altíssima rejeição ao presidente.

— A rejeição a Bolsonaro persiste e é maior em relação a todos os outros candidatos. O presidente cometeu uma série de equívocos políticos que levaram a esse cenário — assegura o professor da Universidade de Pelotas.

A origem desse antibolsonarismo expressivo é bem diferente, afirma Mendonça, da que sustenta o antilulismo, essencial na vitória de Bolsonaro em 2018. No caso do presidente, pesam as mentiras, os erros cometidos na gestão e elementos de personalidade. Nesta eleição, amplia o professor, os eleitores avaliarão o estilo do presidente e também sua administração, que, em alguns casos, como na pandemia, é vista como muito negativa.

Já a rejeição ao PT está ligada a vários elementos, principalmente à corrupção, peça central no discurso do bolsonarismo contra Lula. Após os escândalos do mensalão e, principalmente, da Lava-Jato, a ideia de que nunca houve tanta corrupção no Brasil passou a ser central ao antipetismo, que já existia por diversos outros fatores desde a redemocratização.

Formado sob influência do filósofo político argentino radicado no Reino Unido Ernesto Laclau, (1935-2014) cuja obra é reconhecida por analisar populismo, o professor destaca que “correntes políticas populares como lulismo e o kirchnerismo, na Argentina, têm em comum a decisão de dar voz a pessoas que estavam excluídas do sistema político”. Na teoria de Laclau, cadeias de equivalência são formadas quando diferentes demandas sociais são articuladas em nome de algo novo, passam a ser “reivindicações”. Quando isso acontece, um “povo” é formado contra uma “elite” que está do outro lado de uma nova fronteira política — pessoas, “outros”, que aproveitam a vida “às nossas custas”. Essas equivalências em nome de um projeto político ou visão de mundo podem acontecer da direita à esquerda e abastecem tanto antipetismo quanto antibolsonarismo.

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