Cinco pessoas ligadas à família e ao gabinete do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), permanecem nomeadas em cargos federais em Alagoas após dois meses do governo Lula (PT). A manutenção de apadrinhados do círculo mais próximo de Lira ocorre em meio à pressão de petistas pela redistribuição desses cargos. Um dos principais postos na mira da base de Lula é a superintendência alagoana do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ( Incra), hoje chefiada por Wilson César de Lira Santos, primo de Lira.
César de Lira, como é conhecido, foi nomeado superintendente regional do Incra em março de 2017, ainda no governo Michel Temer, e se manteve no cargo durante toda a gestão de Jair Bolsonaro. Em abril do ano passado, ele ciceroneou o presidente da Câmara durante uma entrega de títulos de propriedade em assentamentos de Alagoas. Conduzido pelo primo, Lira se tornou “patrocinador” de um time de futebol amador em um assentamento de Maragogi, município alagoano cujo prefeito, Sérgio Lira, é tio de César.
Nesta segunda-feira, após cobranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Lula decidiu efetivar o servidor de carreira César Aldrighi para presidir o Incra. Ele já vinha dirigindo o órgão interinamente. O MST cobrava a troca no comando com o objetivo, inclusive, de facilitar a demissão de superintendentes regionais que estavam no cargo no governo Bolsonaro, como o primo de Lira.
O movimento chegou a indicar para o comando do Incra um ex-procurador geral do governo do Paraná, Carlos Frederico Marés, que acabou vetado porque o governo desejava um nome do Nordeste. Em seguida, petistas apoiaram o nome de Rose Rodrigues, ex-secretária de Agricultura do Sergipe e que tem boa relação com o MST, mas ela acabou nomeada na diretoria de desenvolvimento do Incra.
Nomes diretamente ligados a Lira também seguem nomeados em cargos da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em Alagoas. Um desses postos, o de superintendente da Codevasf em Alagoas, é ocupado desde o início de 2021 por João José Pereira Filho, o Joãozinho, primo de Lira.
Joãozinho, como mostrou o GLOBO anteontem, está com bens bloqueados por decisão liminar da Justiça de Alagoas, em 2020, que identificou irregularidades na distribuição de cestas básicas quando era prefeito de Teotônio Vilela (AL); ele também recorre de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou a reabertura de uma ação por improbidade administrativa na qual é acusado de superfaturamento na compra de uma ambulância.
Na superintendência da CBTU em Alagoas, outros três cargos são ocupados por ex-assessores de Lira e por familiares deles. O superintendente regional, Carlos Jorge Cavalcante, é irmão de Luciano Ferreira Cavalcante, aliado de longa data do presidente da Câmara. Luciano está nomeado desde 2017 no gabinete da liderança do PP, exercida à época por Lira. Carlos Jorge dirige a CBTU em Maceió desde 2018.
Nas redes sociais, Carlos Jorge publicou registros em atos de campanha do candidato apoiado por Lira ao governo de Alagoas, Rodrigo Cunha (União), em 2022. Luciano, seu irmão, assumiu o União Brasil em Alagoas por intervenção de Lira, que articula uma federação entre o partido e o PP.
Glaucia Maria de Vasconcelos Cavalcante, esposa de Luciano, também ocupa função na superintendência da CBTU, como gerente regional de Planejamento e Engenharia. Nomeada assessora parlamentar de Lira na Câmara em outubro de 2015, Glaucia permaneceu no cargo até julho de 2016, época em que ingressou em cargos comissionados na CBTU.
O coordenador de Planejamento e Informática da CBTU em Maceió, André Marcelino Loureiro, que ingressou na empresa em março de 2016, também é ligado ao gabinete de Lira. Sua mãe, Rose Marie Loureiro, foi assessora de Lira entre 2014 e 2020. Seu pai, Djair Marcelino, segue como assessor parlamentar.
A presença de apadrinhados de Lira em cargos federais vem gerando incômodos do PT e de aliados, como o senador Renan Calheiros (MDB-AL). O PT pleiteia a administração do Porto de Maceió, hoje a cargo de Diogo Holanda Pinheiro, indicado por Lira em abril de 2022. Outro aliado de Lira na mira de petistas é Arlindo Garrote, coordenador do Departamento Estadual de Obras Contra as Secas (Dnocs) em Alagoas. Ele é filho da ex-deputada Ângela Garrote (PP).
Fonte: O Globo
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