A estudante universitária Isabela Silva, de 22 anos, divide seus dias entre o trabalho como atendente de telemarketing, em São Paulo, e as aulas no curso de história na FMU. Durante a correria da semana, sem muito tempo para cozinhar, ela acaba se rendendo com frequência aos macarrões instantâneos, tanto pela praticidade, quanto pelo custo benefício deste produto. “Meu sabor favorito é o ‘Miojo’ de tomate. Geralmente, quando faço compras eu já pego uns 15 miojos por mês”. “Eu gosto bastante de cozinhar, mas o macarrão instantâneo só como durante a semana, porque é mais prático. Às vezes, de noite, eu estou muito cansada para cozinhar algo mais complicado”, afirma.
Apesar de ser consumidora recorrente do produto que fica pronto em apenas “três minutinhos”, nos últimos meses, a estudante precisou rever suas compras diante do aumento repentino nos preços do macarrão instantâneo. Isabela conta que antes pagava menos de R$ 0,90 por pacote, mas hoje já tem produto na gôndola dos supermercados custando quase R$ 3.
“Eu gosto muito do macarrão instantâneo tipo talharim, mas o preço dele subiu muito. Hoje você vai no mercado, pega três itens e as compras já dão R$ 100. Por isso, tive de começar a comprar outras marcas, que são mais baratas, e optar por sabores mais comuns, como galinha caipira, ou de carne”, diz a universitária.
Item essencial na “cesta básica” de dezenas de milhares de pessoas no País, o macarrão instantâneo teve um salto de preço em 2022 no Brasil. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o produto teve alta acumulada em 12 meses de quase 25% até fevereiro deste ano. O resultado é cinco vezes superior ao patamar geral do índice, que fechou o segundo mês do ano em 5,6%, mantendo sua trajetória de queda nos últimos meses.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o “macarrão instantâneo” passou a fazer parte do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a partir da última atualização da estrutura de ponderação do índice. “Essas atualizações são feitas com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, que é quinquenal. Antes disso, o IPCA não pesquisava os preços deste produto”, informou a entidade.
Para a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (ABIMAPI), como o Brasil precisa importar mais da metade da quantidade de trigo necessária para atender à demanda do mercado local, produtos como o macarrão instantâneo ficam sujeitos à variação do dólar. Cerca de 70% do custo do alimento vem da farinha.
“Sendo assim, qualquer variação no preço do trigo tem impacto direto para os fabricantes”, afirma a Abimapi. Além disso, a guerra entre Rússia e Ucrânia, que respondem, juntos, por 30% das exportações mundiais de trigo, também afeta a cadeia produtiva de alimentos.
Para Matheus Peçanha, economista do FGV Ibre, o que explica o aumento mais forte do preço do macarrão instantâneo perante outros alimentos, como o macarrão comum, é a questão climática. “Os custos com grãos subiram muito em 2020 por causa do La Niña. Isso afetou também o custo da proteína animal. Ainda temos problemas de seca no Sul.”
Para este ano, diz ele, deve haver maior estabilidade de preços daqui para frente. “Com uma safra recorde, podemos ter até uma redução de preços, começando pelos alimentos in natura. Mas os industrializados podem demorar entre seis e nove meses para apresentar esse repasse”, afirma.
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