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Problema é romper ‘escudo político’ de crimes ambientais, diz delegado da PF

“Selva” é o grito de guerra dos militares brasileiros treinados para combater na Amazônia. É também o nome do livro que o delegado Alexandre Saraiva, de 52 anos, da Polícia Federal, acaba de lançar (256 páginas, Editora Intrínseca, R$ 59,90 edição impressa, R$ 29,90 o e-book) para contar sua experiência de dez anos à frente das superintendências regionais da PF em Roraima, Maranhão e Amazonas. Nessa trajetória, teve contato com personagens que povoam o subtítulo da sua obra: Madeireiros, Garimpeiros e Corruptos na Amazônia sem Lei.

Em 2021, Saraiva fez a maior apreensão de madeira ilegal da história da PF: 226.760 metros cúbicos. Era o suficiente para encher pelo menos 7,5 mil caminhões com toras – uma fortuna, avaliada em R$ 130 milhões. A ação o levou a enfrentar o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o transformou em persona non grata no governo Jair Bolsonaro e lhe rendeu um cargo bem longe da floresta, em Volta Redonda (RJ).

“O problema não é mais operacional, o problema é romper o escudo político dessas organizações criminosas”, afirmou, na conversa com o Estadão, Saraiva, considerado um dos maiores especialistas da Polícia Federal em repressão a crimes ambientais.

A ação de Saraiva incluiu uma notícia-crime contra o então ministro do Meio Ambiente, suspeito de atrapalhar a fiscalização ambiental e de patrocinar interesses privados na administração pública. A representação foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Também desencadeou o processo que resultou na exoneração de Salles, cuja permanência no cargo tornou-se insustentável, depois do que foi interpretado como defesa da extração criminosa de madeira.

“Eu não saio de casa para enxugar gelo, eu saio de casa para resolver problema”, afirmou o delegado em entrevista ao Estadão. “E, se não consigo resolver o problema, é porque estou fazendo algo errado. Não posso repetir as mesmas estratégias, esperando resultados diferentes. Eu acredito muito na ciência e tive a sorte de encontrar policiais muito competentes.”

Formado em Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com especialização em Gerenciamento de Organizações de Políticas Públicas pela Universidade Cândido Mendes e doutorado em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Saraiva se declara um apaixonado pela ciência. Segundo ele, o desmatamento da Amazônia pode ser praticamente zerado em apenas seis meses com o uso de tecnologia de ponta para gerar imagens de satélite e rastreamento de madeira. Tudo depende, disse, da vontade política.

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