O volume do setor de serviços do Brasil cresceu bem mais do que o esperado em maio, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (12), com forte impulso do setor de transportes.
No período, o volume de serviços cresceu 0,9%, recuperando-se da queda de 1,5% vista em abril, superando com folga a projeção de economistas consultados pela Reuters de ganho de 0,3% no mês.
“A queda de abril já não dizia ou não mostrava uma inflexão dos serviços, e maio só confirma isso”, disse gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo. “É um setor de serviços que segue crescendo, em um ritmo menor que em meses anteriores… mas o ritmo ainda é elevado em 2023; tem mais volatilidade, mas sem indício de reversão de trajetória.”
Em relação ao mesmo período do ano anterior, o volume de serviços avançou 4,7%, contra expectativa de taxa de 3,8%, o que segundo o IBGE marca a 27ª leitura em campo positivo.
Com esse resultado, o setor de serviços opera 11,5% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e apenas 2,0% abaixo do ponto mais alto da série histórica, alcançado em dezembro do ano passado.
“Adiante, esperamos que a atividade de serviços se beneficie de estímulos fiscais significativos, expansão da renda real do trabalho, redução da inflação e robusta renda agrícola”, disse Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs para América Latina.
“No entanto, o enfraquecimento do impulso da reabertura econômica, as condições monetárias e financeiras domésticas apertadas, os altos níveis de endividamento das famílias, os baixos níveis de ociosidade econômica, a confiança ainda fraca do consumidor e das empresas e a reviravolta no ciclo de crédito podem gerar ventos contrários à atividade de serviços nos próximos meses.”
De acordo com o IBGE, o maior impacto na leitura de serviços de maio veio dos transportes, que avançaram 2,2%, recuperando parte da perda de 4,3% registrada em abril. Dentro desse segmento, o transporte de cargas avançou 3,7%, alcançando o maior patamar de sua série histórica, iniciada em 2011, o que o IBGE associou ao recente bom desempenho do agronegócio.
“Os recordes da safra de grãos acabam influenciando os transportes, especialmente o rodoviário de cargas”, disse Lobo.
“Esse impacto não é de agora. A partir de maio de 2020, ainda no início da pandemia, houve um crescimento importante desse setor, muito ligado ao aumento na produção agrícola e também ao boom do comércio eletrônico, com a migração em larga escala das vendas em lojas físicas para as plataformas online.”
Entre os outros quatro grupamentos de atividades analisados pela pesquisa, o setor de serviços prestados às famílias avançou 1,1% em maio, enquanto os outros serviços subiram 0,6% e o segmento de informação e comunicação ganhou 0,2%. A única atividade que recuou foi a de serviços profissionais, administrativos e complementares, com baixa de 1,0%.
“Nesse setor, houve impacto das empresas de intermediação de negócios, de atividades jurídicas e de cobranças e informações cadastrais”, disse Lobo.
De acordo com o gerente da pesquisa, é difícil mensurar o impacto das oscilações de câmbio, juros e da inflação no segmentos de serviços, uma vez que ele se dá de forma muito heterogênea entre os diferentes segmentos.
Dados recentes do IBGE mostraram que a produção industrial do Brasil voltou a subir em maio, mas recuperou apenas parte das perdas do mês anterior e ainda segue abaixo do patamar pré-pandemia, em parte devido aos impactos do encarecimento do crédito em meio a juros elevados.
A taxa Selic está atualmente em 13,75% ao ano, mas sinais de arrefecimento da inflação podem levar o Banco Central a cortá-la já em seu encontro de agosto, segundo expectativas do mercado.
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