Bahia Hoje News

Paulo Paim aproximou o sindicalismo da causa antirracista

Não foi em Caxias do Sul ou em Brasília, mas nas ruas de Joanesburgo que Paulo Paim (PT-RS), então deputado federal, viu pela primeira um brinquedo que ele desejava dar de presente para suas duas filhas.

O ano era 1990 e, numa caminhada pela cidade da África do Sul, Paim parou diante de uma loja de brinquedos em que havia bonecas negras à venda.

“Era um sonho das minhas filhas, porque [no Brasil] tinha só bonecas brancas. No Brasil daquele período não se achava. Podia ter, mas eu nunca vi. Daí eu comprei as bonecas negras e trouxe para as [minhas] filhas no Brasil”, relembra. “Elas guardaram as bonecas para toda a vida”.

A viagem para a África do Sul marcou o hoje senador de 73 anos. Ele fazia parte de uma delegação de parlamentares brasileiros que foi ao país para celebrar a libertação de Nelson Mandela e convidá-lo a visitar o Brasil.

Paim pôde testemunhar de perto os últimos anos do apartheid e como a África do Sul se preparava para a transição para a democracia. As comparações entre o rígido regime de segregação racial institucionalizado e o que ele havia vivido no Brasil até então foram inevitáveis. “Aqui no Brasil sempre foi um racismo camuflado, disfarçado”, afirma.

O senador tem na memória episódios de racismo ainda na sua pré-adolescência, mas conta que seus pais bolavam histórias para preservá-lo. Sua mãe dizia que ele era descendente de uma família real africana, e que qualquer ofensa racial sofrida por ele era motivada por ciúmes.

Paim se envolveu no movimento estudantil e, pouco depois, no sindicalismo do Rio Grande do Sul. Dois ambientes em que, recorda, havia pouquíssimos negros.

A causa antirracista ganhou nova dimensão em 1986, quando ele foi eleito deputado federal constituinte pelo PT. Antes de se mudar para Brasília, foi procurado pela deputada Benedita da Silva, também eleita para a Constituinte pelo partido.

Adicionar comentário